Módulo 2 - Trabalho de Observação
Neste trabalho do mestrado, optei por apresentar uma situação real que ocorreu numa turma de colega meu, numa sala de Educação Musical, na zona do Vale do Ave.
A turma é composta por 28 alunos e em que cerca de 50%, por razões de carência vária, têm apoio da Segurança Social. De entre eles, o Pedro e o Filipe, respectivamente de 15 e 16 anos, apresentam um panorama escolar e comportamental complicado. O Pedro frequenta o gabinete de psico-pedagogia da escola, isto por apresentar um quadro de manifestações de violência física, já conhecido desde o Básico I. Aliás, no 5º e 6º anos de escolaridade, este aluno já fora suspenso, várias vezes, por comportamento indevido.
Ora, durante uma aula de Educação Musical, os dois alunos, Filipe e o Pedro, combinaram boicotar a aula, provocando o professor com conduta imprópria. Rasgaram os cadernos meticulosamente em quadrados e, olhos nos olhos com o professor de música, projectaram-nos no chão da sala de aula. De seguida, beberam água e regaram o chão para colagem dos mesmos.
A turma, incrédula, assistiu à ocorrência. O professor exigiu que os dois rapazes fossem à sala das limpezas buscar uma esfregona e um pano para limpeza da sala. O Pedro e o Filipe recusaram-se, pondo em causa a autoridade do professor.
O professor isolou os alunos e solicitou ao prefeito (auxiliar de educação) do corredor que os levasse para o seu gabinete de trabalho até próximo do toque de fim de aula. O prefeito, conforme o combinado, regressou com os alunos, cerca de 2 minutos antes do fim da aula.
O professor deixou sair todos os alunos e, com certa rudeza, fez entrar os dois alunos na sala de aula, sob a observação de alguns colegas mais curiosos. Uma vez mais, o professor convidou-os a ir buscar um balde com esfregona e um pano. Estabeleceu-se, então, o seguinte diálogo, que passo a narrar:
Professor – Só saem da sala quando tudo estiver devidamente limpo.
Filipe – Ó “stor”, eu tenho treino de futebol, às 17.30 horas, no Paredes.
O professor cruzou os braços e, de costas para a porta, ficou mudo e quieto.
O aluno mais novo, chegou ao puxador da porta e tentou abri-la. O professor, apesar da sua idade, impediu-o de sair da sala.
Enquanto isto, alguns curiosos, no corredor, queriam confirmar os dotes de professor apaziguador, exigente e disciplinador do professor. Este, sem mais rodeios, acabou por dar duas sapatadas a cada um dos alunos. Perante esta atitude de firmeza, os alunos do corredor, desapareceram. Ficaram só os três. Com tudo isto, havia passado cerca de uma hora após a aula.
Passado um curto espaço de tempo após a atitude do professor, o aluno mais velho, o Filipe, pedindo desculpas, começou a recolher os papéis do chão.
Professor - Podes ir para casa.
Filipe – Obrigado, professor.
Professor - No início da próxima aula terás de pedir desculpa ao professor e à turma. Prometes?
Filipe - Prometo.
O Pedro, vendo-se ficar sozinho com o professor, disse:
Pedro - Deixe-me ir à sala das limpezas buscar a esfregona e um pano para limpar.
Professor - Agora não vais, até porque a esta hora já está fechada.
Pedro - E como é que eu limpo?
Rapidamente descobriu no cabide da sala um casaco e já se preparava para esfregar o chão com ele.
Professor - Pousa o casaco no cabide, porque não é teu.
Pedro - Como é que eu limpo?
Professor - Desenrasca-te!
Um a um, apanhou os papéis, deixando no entanto a sala ainda molhada. O professor continuou de braços cruzados junto à porta e olhos cravados no chão aguado.
O Pedro, acabou por compreender e retirou a sua própria camisola fazendo dela uma esfregona.
Pedro - Posso sair agora, “stor”?
Professor - O que disse ao Filipe aplica-se a ti. Desculpas ao professor e à turma na próxima aula.
Lá saiu e foi a pé, pois, de facto, perdera o autocarro.
O director de turma acabou por saber do sucedido e convocou um conselho de turma. Nele, o gabinete psico-pedagógico fez alguns reparos à forma como o professor exerceu a sua autoridade. O professor, indignado com estes reparos, disse que quem mandava na sua aula era ele e que até à data, sempre conseguiu resolver estes pequenos problemas de indisciplina sem precisar de um conselho de turma ou de um gabinete psico-pedagógico para lhes dar solução. O professor explicou então, que há situações de extremo limite em que a linguagem da força é o único recurso possível.
Acresce dizer que durante o ano lectivo houve mais 5 ou 6 conselhos de turma, convocados por causa de ocorrências anormais de indisciplina grave relacionadas com estes alunos, noutras disciplinas, tendo sempre o gabinete psico-pedagógico uma atitude muito condescendente e pedido a suavização do castigo a aplicar.
No entanto, na aula de Educação Musical, estes alunos nunca mais causaram problemas, aceitando a autoridade do professor e exigindo aos colegas o respeito que o mesmo merece.
Como conclusão, constatamos que o professor de Educação Musical, através de uma certa firmeza, conseguiu uma mudança de comportamento destes alunos/problema. Os outros professores continuaram a ter sérios problemas disciplinares, sobretudo com o Pedro, e que tardaram a ser colmatados ou não o foram. É que, nem sempre as “boas práticas pedagógicas teóricas” se revelam eficientes no terreno! O jovem gosta de sentir no adulto firmeza, segurança e convicções educacionais, mas também respeito, compreensão e explicação do porquê da reprovação das suas atitudes comportamentais.